A primeira vez que ouvi minha mãe pronunciar tal frase, estranhei.
Eu havia ido buscá-la após uma entrevista para um programa da Rede Mulher e notei que ela estava aborrecida. Perguntei o que havia acontecido e ela disse:
"Eles fizeram de tudo para que eu afirmasse que amamentar é um ato de amor. Mas eu nunca direi isso. Amamentar não é um ato de amor".
"Mãe, como assim?" Por um instante, achei que minha mãe estava virando casaca e negando o trabalho de toda uma vida.
Minha mãe foi uma das grandes batalhadoras do aleitamento materno no Brasil e no mundo. Docente da Faculdade de Enfermagem da Usp de Ribeirão Preto, ela ajudou a formar núcleos de aleitamento por todo o país, colocou o assunto na pauta da formação de profissionais, escreveu livros, cartilhas e foi conselheira da OMS sobre o tema, para os países de língua latina.
Eu cresci com mulheres batendo à nossa porta para "desempedrar" as mamas e aprender a dar de mamar. Com alunas que a procuravam para orientar teses de mestrado. Era peito e recém-nascido para todo lado. Aquela frase, dita assim de repente, me pegou totalmente de surpresa.
"Amamentar é optar por dar o melhor alimento ao bebê. Não tem nada a ver com amar. Se fosse assim, poderíamos dizer que os pais amam menos seus filhos? Eles não amamentam. As mães adotivas também não. Ou as mulheres que fizeram plástica. Ou as mães que precisaram desmamar seus bebês para trabalhar...será que todos eles amam menos seus filhos porque não amamentam?"
"Mas é o que a gente sempre escuta...que amamentar é dar amor", argumentei.
"Pois é...mas amamentar é dar alimento. O melhor alimento. O mais completo e o que melhor nutre o bebê. Já amar é outra coisa. As pessoas que confundem as duas coisas, sem querer, estão fazendo um desserviço ao aleitamento, pois as mães ficam mais ansiosas, culpadas e cheias de temores. Todos sabem que uma mãe tranquila amamenta melhor. E como uma mãe pode amamentar tranqüila se ela acha que estará dando menos amor para seu bebê se fracassar? Olha o peso deste sentimento!
Quanto mais desmistificarmos o aleitamento, melhor. As sociedades que amamentam melhor, são aquelas que o fazem naturalmente, como parte de uma rotina. O bebê está com fome, a mãe dá o peito. Simples assim. Quase mecânico. Ninguém pensa muito nisso.
E as mulheres que por algum motivo não conseguem amamentar, precisam parar de sofrer. De sentir culpa. Existem muitas outras formas delas darem o suporte psicológico que o bebê precisa. É óbvio que o aleitamento é a melhor escolha, mas a partir do momento que esta escolha não pode ser feita, a mãe deve parar de sofrer."
Essa era a minha mãe. Cheia de idéias próprias. Cheia de amor. Uma batalhadora da maternidade sem culpa.
P.S.: Se tenho escrito muito sobre ela, me desculpem. Mas este é o mês do seu aniversário. E quem a conheceu sabe que é impossível discutir a maternidade sem mencioná-la.
Esse texto foi escrito pela Tais, em 23/04/09, precisava te-lo registrado aqui, e essa semana foi oportuna, ele me ajudou a elaborar o meu "fracasso" no aleitamento materno. Como eu queria ter amamentado meu filho pelo menos ate os 9 meses, mas nao consegui, o fiz so ate os 5 meses e meio, e ainda com complemento (ou seja foi uma amamentacao mista).
Com a autorizacao da Tais, o texto esta aqui para ajudar outras maes que, assim como eu, um dia me senti menos mae por nao ter conseguido amamentar mais. Muito obrigada Tais e muito obrigada a Dona Vera, por tudo que ela fez por todas nos, mulheres e maes.
Eu havia ido buscá-la após uma entrevista para um programa da Rede Mulher e notei que ela estava aborrecida. Perguntei o que havia acontecido e ela disse:
"Eles fizeram de tudo para que eu afirmasse que amamentar é um ato de amor. Mas eu nunca direi isso. Amamentar não é um ato de amor".
"Mãe, como assim?" Por um instante, achei que minha mãe estava virando casaca e negando o trabalho de toda uma vida.
Minha mãe foi uma das grandes batalhadoras do aleitamento materno no Brasil e no mundo. Docente da Faculdade de Enfermagem da Usp de Ribeirão Preto, ela ajudou a formar núcleos de aleitamento por todo o país, colocou o assunto na pauta da formação de profissionais, escreveu livros, cartilhas e foi conselheira da OMS sobre o tema, para os países de língua latina.
Eu cresci com mulheres batendo à nossa porta para "desempedrar" as mamas e aprender a dar de mamar. Com alunas que a procuravam para orientar teses de mestrado. Era peito e recém-nascido para todo lado. Aquela frase, dita assim de repente, me pegou totalmente de surpresa.
"Amamentar é optar por dar o melhor alimento ao bebê. Não tem nada a ver com amar. Se fosse assim, poderíamos dizer que os pais amam menos seus filhos? Eles não amamentam. As mães adotivas também não. Ou as mulheres que fizeram plástica. Ou as mães que precisaram desmamar seus bebês para trabalhar...será que todos eles amam menos seus filhos porque não amamentam?"
"Mas é o que a gente sempre escuta...que amamentar é dar amor", argumentei.
"Pois é...mas amamentar é dar alimento. O melhor alimento. O mais completo e o que melhor nutre o bebê. Já amar é outra coisa. As pessoas que confundem as duas coisas, sem querer, estão fazendo um desserviço ao aleitamento, pois as mães ficam mais ansiosas, culpadas e cheias de temores. Todos sabem que uma mãe tranquila amamenta melhor. E como uma mãe pode amamentar tranqüila se ela acha que estará dando menos amor para seu bebê se fracassar? Olha o peso deste sentimento!
Quanto mais desmistificarmos o aleitamento, melhor. As sociedades que amamentam melhor, são aquelas que o fazem naturalmente, como parte de uma rotina. O bebê está com fome, a mãe dá o peito. Simples assim. Quase mecânico. Ninguém pensa muito nisso.
E as mulheres que por algum motivo não conseguem amamentar, precisam parar de sofrer. De sentir culpa. Existem muitas outras formas delas darem o suporte psicológico que o bebê precisa. É óbvio que o aleitamento é a melhor escolha, mas a partir do momento que esta escolha não pode ser feita, a mãe deve parar de sofrer."
Essa era a minha mãe. Cheia de idéias próprias. Cheia de amor. Uma batalhadora da maternidade sem culpa.
P.S.: Se tenho escrito muito sobre ela, me desculpem. Mas este é o mês do seu aniversário. E quem a conheceu sabe que é impossível discutir a maternidade sem mencioná-la.
Esse texto foi escrito pela Tais, em 23/04/09, precisava te-lo registrado aqui, e essa semana foi oportuna, ele me ajudou a elaborar o meu "fracasso" no aleitamento materno. Como eu queria ter amamentado meu filho pelo menos ate os 9 meses, mas nao consegui, o fiz so ate os 5 meses e meio, e ainda com complemento (ou seja foi uma amamentacao mista).
Com a autorizacao da Tais, o texto esta aqui para ajudar outras maes que, assim como eu, um dia me senti menos mae por nao ter conseguido amamentar mais. Muito obrigada Tais e muito obrigada a Dona Vera, por tudo que ela fez por todas nos, mulheres e maes.
Olá, Graziela
ResponderExcluirVenho lhe convidar para participar da Blogagem Coletiva “Consumo Consciente”. Não podemos ficar inertes diante de tanta agressão ao nosso Planeta. Precisamos mudar os maus hábitos e propiciar um Planeta melhor para nossos filhos.
Aguardo a sua participação.
Link http://migre.me/4QqU Deixe sua confirmação nos comentários
Abraços
Querida, obrigada pela lembrança e pela publicação. Não sabia da sua história com a amamentação. Mas tenho certeza que vc deu o seu melhor ao seu bebê. Ando meio afastada da rede por conta da criançada em casa e viagens sem fim. Não consigo blogar com eles por perto. Mas, segunda é a volta às aulas e volta à rede. Estou amando estas férias prolongadas, mesmo sabendo que o motivo é pandemônico...Bjs! E de novo, obrigada!
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