sábado, 28 de fevereiro de 2015

Expectativa X Realidade

Mês que vem (março) vamos completar um ano e meio por aqui. 

Esse mês (fevereiro) consumimos um dos últimos itens que trouxemos de Londres. Em pleno mês do carnaval saboreamos um prato típico do natal e estava delicioso. O cheiro, o gosto tudo me levou para bem longe. Fechei os olhos por uns segundos e pude me transportar para nosso antigo apê e relembrar nossos natais gelados, juntos. Foi muito bom.

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Ás vezes queria escrever sobre tudo que temos visto e vivido mas aí lembro que tem muito coisa que não é tão legal e ficar focando só no negativo não leva a nada. Não adianta só reclamar, não adianta ficar bufando ou quebrando a cabeça até porque antes de voltar sabíamos de tudo isso ou quase. E é exatamente nesse ponto que quero falar um pouco mais.

Acho que quando estamos fora do Brasil por mais que nos informemos sobre como anda nosso país, não temos a real dimensão da situação. Temos uma leve ideia e talvez uma ideia até um pouco romantizada da coisa mas a real não.

Porque é uma delícia viajar para e pelo Brasil, passear e depois voltar para o sossego do nosso lar. Agora viver aqui, no Brasil, receber o salário daqui, pagar contas e ainda tentar viajar/ passear aí são outros quinhentos.

É difícil, é cansativo e muitas vezes é injusto. 

Quando morava fora cansei de ouvir as pessoas falando: "É fácil para quem está fora criticar o Brasil porque não está aqui ajudando a construir um país melhor?" 

Sim, ouvi e li isso várias vezes.

Aí voltamos e você sabe o que acontece? Não te dão uma única oportunidade porque você não conhece ninguém. É isso mesmo que você leu. Não importa sua formação, não importa a experiência que você tem, os cursos que fez, nada. Nada importa se você não tiver alguém para te indicar. É triste mas é real.

Tem outra coisa que, nós quando moramos fora, não temos noção nenhum: salário. 

Aqui em Curitiba, aparentemente, se tem mais qualidade de vida mesmo quando temos menos dias de sol do que em Londres. Porém o custo de vida aqui é tão alto como em São Paulo, por exemplo, já os salários são absurdamente menores. Fui ao supermercado quando estive em São Paulo agora em janeiro e os preços são iguais (de coisas necessárias como leite, pão e arroz).

Sempre ouvi também muita gente comentando: "volto para o Brasil para ganhar no mínimo 5 mil". Rapaz em que mundo vivemos onde ganhar 5 mil no Brasil seja assim... digamos facinho. Não, não é fácil e como diz um amigo "não existe almoço de graça".

Claro que é uma delícia estar mais perto da família, falar e ver com mais frequência e a pergunta que sempre fica rondando minha cabeça é "será que tanto sacrifício vale a pena?", "será que quando eu estava longe não estava mais feliz e as poucas vezes que vinha para cá, aproveitava mais?".

Será que será que será?

Tentar imaginar a situação toda cria a expectativa, o que é bom mas precisamos ajustá-la pois a realidade pode ser bem dura e isso gera uma frustração tão grande que pode nos levar até a adoecer.

Essa imagem diz um pouco de como está a real por aqui.


* Talvez eu ainda não saí do período de adaptação e isso só piora ou distorce minha visão de tudo. Santa Mãe da Adaptação dá uma forcinha ai porque não tá fácil não, quero estar mais aqui do que lá, dá para ajudar um pouquinho, please, por favor.


(Atualização)
* Todas as pessoas que diziam que voltariam para o Brasil e iriam ganhar cinco mil reais por mês, voltaram para Londres antes de dois anos do retorno;
* Tudo, absolutamente tudo é muito mais fácil quando se tem apoio, família por perto e conhecidos. (Re)Começar a vida em uma vida nova, ela é nova em qualquer lugar no mundo independente de ser sua terra natal;
* Agora entendo melhor porque tanta gente quase enlouquece para passar em concurso público, estabilidade+segurança+bom salário;
* No Brasil ter mais de 30 anos é considerado velho para trabalhar. Na hora de contratar preferem dar a oportunidade para quem tem seus 20 e poucos anos do que para quem passou dos 30. Então se prepare para mais uma rejeição;
* Sei que ficou parecendo só reclamação, choradeira e sei lá mais o que. Não foi minha intenção só queria deixar registrado o quadro real e não aquele romântico-lindo-maravilhoso que existia (se é que existia mesmo) antes de irmos embora.

Um comentário:

  1. Oi, Grazi!
    Agora a escolha já está feita, mas se tivesse me perguntado, eu iria lhe falar a real do Brasil, assim como fiz com alguns amigos que queriam voltar quando estávamos por cima e o noticiário internacional falava super bem do que aqui acontecia - Só que não... O primeiro governo Dilma foi para "gringo ver". Foi um governo de fachada e que agora colhe o que plantou. A crise corria solta na Europa e os meus amigos queriam fugir de lá. Eu lhes disse para esperar, pois a coisa era cíclica; a crise de lá viria para cá...
    Eu sinto muito por tudo que está passando, ainda mais com criança pequena cheia de prioridades para cumprir... A maioria que volta, vem para abrir um negócio próprio... daí que as ilusões caem por terra, porque você se torna um sócio direto com o governo e ele lhe leva todo o lucro. O melhor negócio ainda é franquia.
    O Brasil é um país muito esquisito com relação a mercado de trabalho. Como querem pessoas recém formadas sem experiência? E eles exigem "experiência". Se está procurando trabalho, não fique à margem... Invista nem que seja em cursos ou num emprego inferior ao que pretende, pois estando no mercado de trabalho você saberá e terá mais oportunidade. O que mata a carreira é não estar trabalhando... Isso porque o mercado de trabalho entende que o profissional capacitado está trabalhando.
    Para a mulher é pior, pois estamos divididas entre a casa e a procura por emprego e sempre deixamos esse para último plano quando tem um outro provedor do sustento. Até eles entendem que a procura por emprego seja prioritária para eles.
    Sobre família... eu entendi com o passar dos anos que ser visita muitas vezes é melhor do que participar "de vez em quando" dos eventos familiares. Quando se é visita, tudo é compreensível. Quando você está por perto, existe muita cobrança, mas os "outros" não assumem as obrigações das mesmas cobranças.
    Ah, estou falando das minhas experiências!
    :)
    Boa sorte!
    Beijus,

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Gra

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