segunda-feira, 1 de maio de 2017

A leitura me salvou!

Não sei quantas vezes.

Valquíria era chefe da minha mãe e uma vez nos convidou para ir a casa dela. Casa simples, bonita e com pouca coisa. Almoçamos. Valquíria morava com a mãe, uma senhora de idade avançada e o filho, um homem, muito educado.
Após o almoço enquanto ela passava um café, eu corri para o quintal. Um pequeno corredor com o chão de mosaico de cerâmica. Era lindo, eu lembro. Por ali fiquei por um tempo, brincando sozinha pois era a única criança.
Antes de irmos embora, fui presenteada com dois livros. Lembro deles até hoje, com carinho, e fico imaginando que fim levaram. Foi ali que tive o primeiro contato com os livros, não tinha sete anos ainda e lembro da minha empolgação para aprender ler e entender tudo aqui que estava lá dentro.

Não cresci ouvindo histórias todas as noites e o contato com os livros eram raros. Foi na escola que esse gosto foi despertado, graças as professoras das séries inicias. Dona Cleusa teve um papel fundamental nesse processo. E depois que comecei a ler,  não parei mais. 

Um pouco mais velha, com quase 15 anos, caiu em minhas mãos o incrível "Olhai os lírios do campo" de Érico Veríssimo. Li e aquela história do Eugênio mexeu tanto comigo, me fez acreditar que se ele conseguiu eu também conseguiria. Conseguiria realizar meus sonhos, seguir em frente. Reli esse livro maravilhoso agora depois de adulta e morando aqui em Curitiba, teve outro impacto na minha vida mas tão forte quanto o primeiro. 

Veio o Magistério, a Faculdade e de repente "Dibs, em busca de si mesmo" cruza o meu caminho e mais uma vez me tira do lugar, me faz acreditar no poder do amor e confirma o que eu estava buscando: sim, aquele era o caminho que eu queria seguir.

Tantos outros livros passaram por mim e me marcaram.

Só que em 2010 minha vida tomou outro rumo. Em novembro meu pai faleceu e uma parte de mim faleceu junto. Eu não conseguia juntar meus cacos e seguir. Achava que estava preparada mas nunca estamos. Foram meses sem dormir direito e mais outros tantos até conseguir voltar a me alimentar. Ânimo, nem sabia o que isso significava. Se sobrevivi foi porque meu filho, ainda muito pequeno, precisava de mim, inteira. Estava pela metade porém foi o que consegui naqueles dias e sobrevivi.

O processo do luto, da aceitação, foi longo até que um dia peguei um livro que estava a semanas comigo emprestado. Sentei e em uma noite li 50 páginas. Naquele momento comecei a aceitar a morte do meu pai. Imaginei o que aconteceu com ele e acho que passou a doer um pouco menos. Quem colaborou para tudo isso acontecer foi uma amiga na época, Priscila, que me emprestou o livro "A menina que roubava livros".

A chegada em Curitiba foi aquele baque só que já contei por aqui e viver sem amigos é estranho. Eu e o Nicolas saímos várias vezes para conhecer o bairro e um belo dia encontramos um sebo bem simples onde o forte eram os gibis. Enquanto o pequeno se esbaldava escolhendo um ou dois eu fuçava nos livros para encontrar algo que me chamava a atenção. Depois de algumas visitas lá, encontrei sem querer o livro "Comer, rezar e amar". Não havia assistido o filme e não assisti ainda mas o livro me fez companhia por algumas semanas e despertou um desejo para seguir vivendo que não sei explicar.

A vida foi passando, continuei lendo dentro do possível. Ano passado aconteceu algo que me tocou fortemente. Teve a feira de livros usados na escola e demos para o Nicolas R$15 para ela gastar, no final da tarde ele chegou com três livros, "um para cada pessoa da família". Imagine meu orgulho.

Eis que de repente, mês passado, lá estava eu agarrada ao Amyr Klink, um dos livros que meu filho comprou. Que surpresa maravilhosa. Que vivência incrível ele viveu, realizou um sonho, batalhou, estudou e se preparou para tal. 

E eu fiquei pensando no quanto a minha solidão foi consolada pelos livros. O quanto muitas vezes não adoeci ou entrei em depressão porque tinha um livro por perto, por ter uma história, por viajar nessas viagens que nem eram minhas mas passaram a ser.

Amo ler, amo viver e mesmo sendo um desafio não desistirei tão fácil.

Desejo que os livros estejam sempre vivos na minha vida e na sua. Se você ainda não foi picado pelo bichinho da leitura, se permita, te garanto que não irá se arrepender.


Esse é o sorriso de quem ganhou um livro novo hoje. 
Acho que estamos fazendo algo certo por aqui mesmo com todos os erros no meio do caminho.

2 comentários:

  1. Ô, Grazi!
    Que postagem linda e tocante! Eu amei ler um pouco da sua vivência... É linda e se parece com de muita gente. Eu também acho que a leitura mudou minha vida, salvou minha história e deu um outro rumo a tudo o que aconteceu comigo nesses quase 47 anos que me acompanham! É bom demais mergulhar numa boa leitura e isso também diz respeito aos sites e blogs que visitamos e lemos durante nossos dias! Muito bom vir aqui te visitar! Abraços, querida!
    Drica.

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  2. Gra, do instagram vim parar aqui e me emocionei!
    Dibs, também me tocou de uma forma intensa, mesmo que eu tenha uma vaga lembrança da história.
    Comer, rezar, amar também instilou uma energia nova em mim.
    Não sou uma leitora voraz. Já tentei vários desafios, mas acho que gosto do meu tempo. Por vezes leio rápido, vários livros, outras tantas vezes a leitura não flui, ou vai bem lenta.
    Uma das últimas leituras que me transformaram foi O filho de mil homens de Valter Hugo Mãe.
    Beijos!

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Leio todos os comentarios e sempre que possivel respondo aqui mesmo ou no blog correspondente de quem comentou. Muito obrigada pela visita e volte sempre.
Gra

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