sexta-feira, 22 de abril de 2016

A chatinha

Londres, novembro de 2004.
 
Tudo parecia estranho naquela cidade. O clima, a comida, as pessoas. Tudo estranho demais para mim.
 
Entre tantas coisas o que mais me chamou a atenção era o movimento no ônibus. Não digo o movimento do ônibus mas no ônibus.
 
As pessoas comiam no ônibus: imaginem o cheiro de comida apimentada mais comida frita mais o cheiro do café;
 
as pessoas se maquiavam no ônibus: que habilidade passar delineador com o ônibus em movimento. uma vez em um percurso de 40 minutos a mocinha se maquiou, colocou cílios postiços e arrumou o cabelo. fiquei extasiada olhando;
 
muitas pessoas liam no ônibus e liam de tudo independente de estarem sentadas ou em pé;
 
as pessoas dormiam;
 
os cachorros entravam também era uma festa;
 
e os carrinhos de compra, várias pessoas com carrinhos de compra no ônibus;
 
fora as mudanças muitas delas, com tudo.
 
Era uma loucura e engraçado ao mesmo tempo.
 
Eu, paulista metida a besta*, comecei a ficar horrorizada ao ver as pessoas com as compras. Sem nenhuma preocupação com o outro. Ela estava fazendo a compra da semana ou do mês, não sei (não conheci ninguém que fazia compra do mês, nem os ingleses) e como era muita coisa ou morava longe precisava pegar o ônibus.
 
Achava um absurdo as pessoas carregando os pacotes de papel higiênico sem nenhuma preocupação.
 
Lembra que eu falei que era metida a besta então para mim aquilo era um terror, onde já se viu.
 
Mas todas essa minha abestalhaçao não durou dois meses. Nós também pegávamos ônibus algumas vezes para voltar com a compra do mercado pois estava pesado ou chovendo e carregar o pacote de papel higiênico passou a ser algo natural como era para todas aquelas pessoas. Até porque todo mundo precisa de papel higiênico uma hora ou outra.
 
Passado alguns anos um dia eu estava voltando do mercado e um grupo de três ou quatro pessoas ficaram me olhando com cara de surpresa. Provavelmente a mesma cara que eu fazia logo que cheguei na cidade e ai eu pensei: "que foi tu não usa papel não ou tá limpando o fiofó com sabugo de milho, tá podendo em". Porque meus amigos o milho na terra da rainha era caro prá dedeu.


(Esse era o papel higiênico que nós usávamos; ás vezes até dessas pequenas coisas eu tenho saudade.)

* paulista metida a besta: porque eu era assim mesmo, fresquinha. ainda bem que melhorei, ainda bem que nós amadurecemos, mudamos senão eu não tinha dado conta não.
 
Nem sei porque deu vontade de deixar registrado essa história aqui talvez seja porque o preço das coisas aqui na terra brasilis está uma carestia como diz minha avó. Ela disse que meu biso sempre falou: "presta atenção que os fins dos tempos estão chegando e você saberá quando será. quando você levar um carinho de dinheiro a venda e voltar com uma sacola de mercadoria. hoje levamos uma sacola de dinheiro e voltamos com um carinho mas isso ainda vai mudar". Biso querido já mudou faz tempo.

Um comentário:

  1. Graziela,

    A gente tem muito o que aprender para deixar de ser "metido a besta" rsrsrs... E, na maioria das vezes, a gente aprende apanhando da vida!
    Adorei sua aventura e história!

    Abração,
    Drica.

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